Do Paleolítico ao Neolítico

27-09-2010 19:03

Do Paleolítico ao Neolítico

 

O Paleolítico

Durante todo o período Paleolítico, a humanidade evoluiu muito lentamente. Foram alguns milhões de anos em que os objectos fabricados eram ainda muito rudimentares e o modo de vida do Homem muito dependente do meio natural: a sobrevivência dependia do que lhe dava a caça e a apanha de frutos. Os seus instrumentos eram sobretudo de pedra talhada.

No entanto, há cerca de dez mil anos, registou-se uma profunda transformação: o Homem descobriu a agricultura e começou a domesticar e a criar animais. Assim, ao não necessitar de se deslocar para obter alimentos, os grupos humanos fixaram-se numa região só e, dispondo progressivamente de melhores meios para criar maior riqueza, tornaram-se cada vez mais numerosos. 

 

A Economia Recolectora

A caça

A alimentação do Homem foi-se alterando à medida que ele também foi evoluindo. Assim, de uma dieta alimentar baseada sobretudo em vegetais recolhidos das árvores ou do solo, frutos, folhas e raízes, o Homem passou gradualmente à gestão de carne. Deste modo, tornou-se omnívoro, tendo com isso enormes vantagens em termos de adaptação ao meio: 

   - Não ficou dependente de um tipo de clima e região.

   - Desenvolveu um modo de vida que tinha a recolecção e a caça como actividades principais.

No início, a caça limitava-se a pequenos animais, fosse pelos instrumentos rudimentares que usavam fosse pelas dificuldades de comunicação e unidade do grupo.

A partir do Homo Erectus, e sobretudo com o Homem de Cromagnon, a caça passou a ser a principal actividade do Homem. Realizavam-se grandes caçadas a animais de grande porte como elefantes, rinocerontes, bois, bisontes, cavalos e outros. Para isso foram utilizadas diversas armas feitas de pedra, madeira e osso, como flecha, a zagaia, o dardo ou armadilhas engendradas para o efeito.

A caça passou a ser, gradualmente, uma actividade organizada, planeada e executada por uma comunidade de indivíduos que depois partilhavam o animal entre si.

Esta economia, em que nada se produz mas apenas se recolhe e consome chama-se economia recolectora.

 

A Habitação

No Paleolítico, os Homens eram nómadas, isto é, mudavam frequentemente de lugar em consequência da economia recolectora, já que a sobrevivência do Homem dependia da existência de caça, dos ciclos normais de vida das plantas ou da variações climáticas. Por isso, o Homem tinha de mudar, frequentemente, de território em busca das condições que lhe assegurassem alimentação, segurança e conforto.

 

As Técnicas

Os instrumentos

Foi no fabrico de instrumentos que o Homem se distinguiu definitivamente dos animais, porque, do mais simples ao mais complexo, o fabrico de instrumentos implicava a previsão de uma necessidade de que só o Homem era capaz. Esta capacidade estava, naturalmente, ligada com as suas primeiras actividades que eram a colheita de vegetais, a caça, a pesca e também certas manifestações decorativas e artísticas.

Os primeiros instrumentos eram pequenos seixos de pedra quebrados de forma a ficarem com uma face com arestas cortantes. Este tipo de instrumentos, chamados bifaces, eram utensílios que, apesar de simples, exigiam uma técnica cuja  aprendizagem e evolução levou milénios.

Outro passo importante no fabrico de instrumentos foi quando o Homem passou a aproveitar as lascas que eram libertas da pedra que servia de núcleo central no momento em que era batida. Estas lascas ganharam uma importância muito grande para o Homem do Paleolítico já que eram aproveitadas para o fabrico de inúmeros pequenos utensílios como raspadores, pontas de seta, lâminas e buris.

Para além da pedra eram também trabalhados a madeira e o osso, o chifre e o marfim. Este tipo de objectos eram utilizados para adorno pessoal.

 

O fogo

Datam de há 500 mil anos os primeiros vestígios da utilização do fogo pelo Homem. 

O domínio do fogo representou um passo fundamental para a sobrevivência do Homem no meio que naturalmente lhe era hostil. Para isso apontamos cinco razões:

      - O Homem foi o único ser vivo a não recear o fogo, o que lhe dava uma grande vantagem sobre as outras espécies, fosse na sua actividade de caça fosse como arma defensiva.

      - Passou a possuir uma fonte de calor, que lhe fornecia o conforto essencial e um meio fundamental para se adaptar às alterações climáticas, nomeadamente ao frio.

      - Permitiu-lhe a cozedura dos alimentos, facilitando a sua deglutição e digestão. Este facto teve como consequências a regressão das mandíbulas e o aumento da caixa craniana e do volume cerebral.

      - Contribuiu para o desenvolvimento de novas técnicas, que facilitaram o fabrico de instrumentos, como é o caso da utilização do calor no amolecimento de dentes de mamute ou no endireitamento de varas.

       - Valorizou a vida em grupo e consequentemente o desenvolvimento da comunicação e da linguagem, uma vez que foi um factor de encontro e de reunião.

 

O Neolítico

A Economia Produtora

A agricultura

Há aproximadamente 10 mil anos que mudanças climatéricas criaram as condições para o Homem começar a abandonar o modo de vida, exclusivamente, baseado na caça e na recolecção para passar a produzir os seus próprios alimentos.

Verificou-se um grande desajuste no que se refere à economia recolectora, pois o Homem não colmatava a suas necessidades nem tinha condições para aumentar em número.

Deste modo, a agricultura surgiu como o resultado de uma necessidade alimentar da comunidade e também como a actividade que melhor se adaptava à sua própria organização: Os Homens continuavam a procurar a caça e as mulheres dedicavam-se às diferentes tarefas relacionadas com a agricultura.

Os primeiros produtos cultivados foram o trigo, a cevada, o milho, a soja e o arroz. A agricultura foi das mais importantes descobertas da História da Humanidade, uma vez que provocou profundas alterações na sociedade humana e na sua relação com o meio ambiente: o Homem fixou-se definitivamente num local e adaptou-o às suas necessidades. A esta lenta transformação, que demorou centenas de anos e tem por base uma economia produtora, dá-se o nome de revolução neolítica.

A domesticação

Para além da agricultura, a criação de animais foi outro passo muito importante para a alteração do modo de vida do Homem, este facto caracterizou também a revolução neolítica.

A criação de animais deu ao Homem não só a possibilidade de não ter de se deslocar para obter a carne e as peles necessárias à sua alimentação e conforto, mas também o leite e, com a domesticação do boi, uma força para tracção.

Como a agricultura, também a domesticação deve ter surgido espontaneamente em vários locais, resultado da evolução natural de aproximação e observação dos animais no decurso das caçadas. Esta actividade permitiu ao Homem conhecer os hábitos dos animais, distinguir os machos das fêmeas para preservar estas últimas e inventar meios para manter as manadas próximas  de si de forma a facilitar a sua captura.

O primeiro animal domesticado foi o cão, seguindo-se animais para a alimentação, como a cabra, o carneiro, o boi e o cavalo.  

 

As sociedades sedentárias

A sedentarização

Sedentarização é a fixação definitiva de uma comunidade numa região. Este foi um processo que conduziu naturalmente aos primeiros aldeamentos que se localizaram sobretudo na proximidade de rios, porque nesses locais existia uma grande variedade de recursos alimentares, como o peixe, os crustáceos, os moluscos de casca, as aves, os pequenos mamíferos para a caça, os cereais, etc.

A fixação num local facilitou por sua vez o surgimento da agricultura já que permitiu ao Homem a observação prolongada dos ciclos de vida das plantas e a experimentação do seu cultivo. Por outro lado, a agricultura, ao resolver melhor as necessidades alimentares e de conforto do Homem, criou ligações e obrigações deste para com a terra – ele tem de cultivá-la, apanhar e tratar o cereal – que o transforma definitivamente em sedentário.

As casas dos primeiros aldeamentos eram circulares e construídas com os materiais de mais fácil acesso: adobe ou tijolo no Próximo Oriente; argila seca sobre armação de madeira no Ocidente; a pedra também era utilizada. Mais tarde, com o crescimento das populações e a necessidade de espaço, o plano circular das habitações foi substituído pelo rectangular.

O melhor conhecimento dos processos agrícolas  e a maior capacidade de domesticação de animais permitiram ao Homem expandir-se para além das margens dos rios e construir aldeias em locais que considerou mais apropriados às actividades que desenvolvia, à organização e número de elementos da sua comunidade e às necessidades de defesa.

Os instrumentos

Embora o Homem do Neolítico utilizasse o osso e a madeira para a construção de instrumentos e objectivos vários, a pedra deve ter continuado a ser, nesta época, o material mais trabalhado  e usado, tal como acontecia no Paleolítico.

A pedra era, no entanto, melhor trabalhada, já que, depois de lhe ser dada forma, era polida, através da paciente fricção de uma pedra com outra ou areia. O polimento é uma das características que distingue os instrumentos deste período que se tornaram mais eficazes. Foi, igualmente, possível alargar a sua variedade e adequá-los às novas actividades ligadas à economia produtora.

Foi neste período que surgiram ou foram desenvolvidos a foice para ceifar os cereais, o machado para desbravar a terra, a enxada para preparar o solo e o pau – escavador para semear ou desenterrar os tubérculos. Por outro lado, continuou-se a fabricar setas, facas, arpões e raspadores imprescindíveis para a caça e a pesca.

Foi, também, no Neolítico que apareceram a mó, normalmente uma pedra chata, e o pilão ou moleta com que se esmagavam os grãos para o fabrico da farinha.

 

As Primeiras Conquistas

A Bipedia

Há cerca de 15 milhões de anos, na África Oriental e do Sul, ocorreram importantes alterações climáticas que modificaram a paisagem e as condições de vida.

Em resultado do clima se ter tornado cada vez mais seco, os hominídeos, isto é, os antepassados do Homem, foram obrigados a abandonar a floresta, onde habitavam, e a viver na savana. Esta, mais despida de vegetação do que a floresta, obrigou o nosso mais remoto antepassado - o Australopiteco - a marchar sobre os pés (bipedia).

Com o decorrer dos tempos, a postura vertical tornou-se permanente levando a outras importantes alterações do corpo, em particular da mão e do crânio. A mão, progressivamente semelhante à nossa, permitiu ao nosso antepassado utilizar os instrumentos que possuía. Por outro lado, o crescimento do crânio proporcionou-lhe um cérebro maior, o que significou mais capacidade para resolver os problemas que teve de enfrentar.

Vantagens da bipedia para os primeiros hominídeos:

* Desenvolvimento da habilidade para o transporte de alimentos entre lugares

* Redução de pêlos sobre as áreas do corpo não expostas ao sol forte

* Liberação das mãos para diferentes usos ou para cuidar de filhotes

* Decréscimo do consumo de energia em caminhadas a velocidades normais

* Aumento do horizonte de visão e melhoria da protecção contra predadores  

 

O Domínio do Fogo

Ao dominar o fogo, o Homem acreditou nas suas capacidades e preparou novas descobertas. De facto, a produção do fogo veio alterar, profundamente, os hábitos do homem primitivo e abrir-lhe caminho a outras inovações.

O Homo Erectus já sabia produzir o fogo. Com efeito, há mais de meio milhão de anos, esse antigo antepassado do homem já acendia fogueiras, como se comprova pelo facto de aparecerem vestígios de fogo em lugares por si habitados. Com esta invenção, o homem primitivo alterou, profundamente, a sua maneira de viver.

O domínio do fogo alterou a vida do homem primitivo pois veio permitir-lhe:

- Aperfeiçoar os instrumentos utilizados na caça e na pesca;

- Cozinhar os alimentos, até aí comidos crus;

- Defender-se melhor dos animais que o cercavam ou empurrá-los para os locais pretendidos;

- Iluminar as cavernas, de que ocasionalmente se servia, através da utilização da gordura dos animais que abatia;

Em conclusão, ao dominar o fogo, o Homem acreditou nas suas capacidades e preparou novas descobertas. De facto, a produção do fogo veio alterar, profundamente, os hábitos do homem primitivo e abrir-lhe caminho a outras inovações.

 

 

 

Por Liliana Guia

 

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